Será que um universo espelho oculto influencia nosso mundo?
Um dos parâmetros fundamentais de nosso universo é a constante H0 de Hubble. Ele indica a velocidade na qual objetos distantes se afastam de nós e assim determina o destino de todo o universo. Hoje sabemos que não é uma constante no sentido restrito, porque o H0 muda com o tempo.
No entanto, a ciência tem um problema fundamental com isso. Dependendo de como é medido, seu valor difere. A diferença entre os métodos de medição aumenta ainda mais quanto mais precisas forem as medições. Se H0 é calculado a partir do modelo padrão da cosmologia (Lambda Cold Dark Matter, ΛCDM), os valores são significativamente menores do que se a velocidade real dos objetos distantes for medida com precisão. Os cosmólogos estão tentando resolver esta discrepância mudando nosso atual modelo cosmológico. O desafio, no entanto, é que este modelo, de outra forma, dá previsões muito boas sobre a realidade. Portanto, você tem que mudá-lo sem causar discrepâncias em outros lugares.
Uma equipe da Universidade do Novo México e da Universidade da Califórnia, Davis, pode ter encontrado uma maneira interessante de fazer isso. Os pesquisadores estão usando o backgriund cósmico de microondas (CMB), o “eco do big bang”. Os padrões de temperatura e polarização da CMB foram moldados principalmente durante o período de recombinação do universo, quando elétrons e íons combinados para formar átomos neutros. A escala de comprimento destes padrões determina H0, mas só pode ser estimada atribuindo valores a certos processos, como a taxa de dispersão de fóton-eletrônico durante a recombinação e a taxa de expansão do universo naquele momento.
No novo estudo, a equipe mostra que, escalando adequadamente os valores atribuídos a estes processos, obtém um valor H0 derivado do ΛCDM que corresponde ao valor derivado do redshift (ou seja, a velocidade dos objetos distantes). Com este tipo de mudança, todas as outras constantes físicas permaneceriam as mesmas. Quase todos eles – as abundâncias relativas de deutério e hélio no universo – o modelo modificado prevê de forma incorreta. Mas este problema, diz a equipe, seria mais fácil de resolver do que a discrepância H0.
Se o universo de alguma forma explora esta simetria, os pesquisadores chegam a uma conclusão extremamente interessante: que existe um universo espelho muito semelhante ao nosso, mas invisível para nós – exceto através da influência gravitacional em nosso mundo. Tal setor escuro “espelho” permitiria uma escala efetiva de taxas gravitacionais em queda livre, respeitando a densidade média de fótons, que é medida com precisão hoje em dia. “Na prática, esta simetria de escala só poderia ser realizada incluindo um mundo espelho no modelo – um universo paralelo com novas partículas que são todas cópias de partículas conhecidas”, diz Francis-Yan Cyr-Racine da Universidade do Novo México. “A idéia de um mundo espelho surgiu pela primeira vez nos anos 90, mas não foi reconhecida como uma solução possível para o problema constante do Hubble até agora. “Pode parecer loucura à primeira vista, mas tais mundos-espelho têm recebido muita atenção em outros contextos porque podem ajudar a resolver problemas importantes na física das partículas”, explica Cyr-Racine. “Nosso trabalho nos permite conectar o fenômeno a um problema importante na cosmologia pela primeira vez”.
(Imagem acima: PantherMediaSeller / depositphotos.com)